5.12.2014

Insônia

Presa dentro dos meus olhos como um cisco
Vejo meu reflexo se mover como se fosse eu
Eu sou apenas um fantasma e ninguém entende minha língua
Mas não há tempo para sentimentalismo
O que eu sinto ou até mesmo o que você sente não é importante
Afinal, a vida é muito curta
e não se chega a lugar nenhum arrastando sonhos ou cicatrizes em papéis rasgados
Ninguém pode desenhar estrelas nas palmas das minhas mãos trêmulas
E ninguém pode escutar o meu grito
Exilado nesse silêncio faminto que é a noite

5.11.2014

{sobre amor e cigarros}

Meu primeiro cigarro eu acendi tentando impressionar uma garota, aos treze anos. Seu nome não me vem à mente agora, mas por algum tempo (e isso pode significar anos ou horas) eu a amei. Posso afirmar com convicção, porém, que meu amor queimou intensamente durante todo aquele cigarro.
Sabe, o amor é um vício como qualquer outro, tão inventado pelos homens quanto o cigarro ou álcool. Não estou dizendo que ele não existe, pelo contrário: somos todos usuários do amor. Passamos a vida consumindo seus derivados na televisão, no cinema, na música, nos livros de bolso que compramos no aeroporto... Os poetas vivem do amor como um dentista vive de arrancar dentes. E nós não passamos de bocas desdentadas.
O amor de verdade não é algo que acontece muitas vezes na vida de uma pessoa, mas falam sério quando dizem que é eterno. A dependência é eterna. Mas o prazer, guardadas as devidas proporções (da eternidade), dura tanto quanto uma tragada.

5.09.2014

Nunca é tempo

É tarde. Os sonhos já adormeceram
em mim, as luzes se apagaram
no céu, as estrelas estão mudas

Eu sei, é tarde
a estação está vazia
agora, e a goteira sobre a pia
pinga uma lágrima a mais

Mas é tarde
e esta noite não tem lua
nua, nem você cheia de dedos
para me apontar que

Sim, é tarde demais para mentir
mesmo que seja verdade
que tenho saudade de quando era cedo
demais.