minha cabeça está zunindo
como um enxame de mariposas alvoroçadas
pela claridade que invade (à revelia)
a escuridão do meu quarto
revelando ao meu lado
a cama vazia
que me encara com desdém
como quem tenta despertar alguma dor (despertador)
mas só consegue me deixar mais puta
viro pro lado e invento uma desculpa
para o dia não raiar
pelo menos até o meio-dia
ou até o telefone tocar
ou o carteiro chegar
ou a fome bater
ou qualquer coisa que me faça querer matar
ao invés de morrer
Planeta desorientado
4.11.2015
3.30.2015
Maresia
Eu gosto do gosto de sal que fica na boca depois de um banho de mar e do estremecimento que dá quando o vento bate no cabelo molhado. É como o eco de um beijo uma vez roubado. Como o sopro suave de uma respiração em meu ouvido, indo e vindo como as ondas que vêm e vão e (não em vão) trazem consigo o hálito fresco da maré.
Minha sina é sentir saudade do gosto do cheiro da cor do som do toque de tudo que uma dia eu já senti. Meu corpo guarda o calor do sol que queima marcas tatuadas em brasa. E mesmo quando eu troco a pele, o pelo guarda a lembrança do arrepio.
Minha sina é sentir saudade do gosto do cheiro da cor do som do toque de tudo que uma dia eu já senti. Meu corpo guarda o calor do sol que queima marcas tatuadas em brasa. E mesmo quando eu troco a pele, o pelo guarda a lembrança do arrepio.
1.06.2015
Flor do deserto
a flor da pele também desabrocha
e brota
mesmo no
campo mais seco
regado ao
suor dos (es)poros
que
estuporam sob o sol de rachar
pétala por
pétala
revela sua beleza
tímida
como um
botão no peito comprimido
que sangra
até murchar
em um
orgasmo interrompido
5.12.2014
Insônia
Presa dentro dos meus olhos como um cisco
Vejo meu reflexo se mover como se fosse eu
Eu sou apenas um fantasma e ninguém entende minha língua
Mas não há tempo para sentimentalismo
O que eu sinto ou até mesmo o que você sente não é importante
Afinal, a vida é muito curta
e não se chega a lugar nenhum arrastando sonhos ou cicatrizes em papéis rasgados
Ninguém pode desenhar estrelas nas palmas das minhas mãos trêmulas
E ninguém pode escutar o meu grito
Exilado nesse silêncio faminto que é a noite
Vejo meu reflexo se mover como se fosse eu
Eu sou apenas um fantasma e ninguém entende minha língua
Mas não há tempo para sentimentalismo
O que eu sinto ou até mesmo o que você sente não é importante
Afinal, a vida é muito curta
e não se chega a lugar nenhum arrastando sonhos ou cicatrizes em papéis rasgados
Ninguém pode desenhar estrelas nas palmas das minhas mãos trêmulas
E ninguém pode escutar o meu grito
Exilado nesse silêncio faminto que é a noite
5.11.2014
{sobre amor e cigarros}
Meu primeiro cigarro eu acendi tentando impressionar uma garota, aos treze anos. Seu nome não me vem à mente agora, mas por algum tempo (e isso pode significar anos ou horas) eu a amei. Posso afirmar com convicção, porém, que meu amor queimou intensamente durante todo aquele cigarro.
Sabe, o amor é um vício como qualquer outro, tão inventado pelos homens quanto o cigarro ou álcool. Não estou dizendo que ele não existe, pelo contrário: somos todos usuários do amor. Passamos a vida consumindo seus derivados na televisão, no cinema, na música, nos livros de bolso que compramos no aeroporto... Os poetas vivem do amor como um dentista vive de arrancar dentes. E nós não passamos de bocas desdentadas.
O amor de verdade não é algo que acontece muitas vezes na vida de uma pessoa, mas falam sério quando dizem que é eterno. A dependência é eterna. Mas o prazer, guardadas as devidas proporções (da eternidade), dura tanto quanto uma tragada.
Sabe, o amor é um vício como qualquer outro, tão inventado pelos homens quanto o cigarro ou álcool. Não estou dizendo que ele não existe, pelo contrário: somos todos usuários do amor. Passamos a vida consumindo seus derivados na televisão, no cinema, na música, nos livros de bolso que compramos no aeroporto... Os poetas vivem do amor como um dentista vive de arrancar dentes. E nós não passamos de bocas desdentadas.
O amor de verdade não é algo que acontece muitas vezes na vida de uma pessoa, mas falam sério quando dizem que é eterno. A dependência é eterna. Mas o prazer, guardadas as devidas proporções (da eternidade), dura tanto quanto uma tragada.
5.09.2014
Nunca é tempo
em mim, as luzes se apagaram
no céu, as estrelas estão mudas
Eu sei, é tarde
a estação está vazia
agora, e a goteira sobre a pia
pinga uma lágrima a mais
Mas é tarde
e esta noite não tem lua
nua, nem você cheia de dedos
para me apontar que
Sim, é tarde demais para mentir
mesmo que seja verdade
que tenho saudade de quando era cedo
demais.
4.27.2014
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