4.11.2015

Humor matinal

minha cabeça está zunindo
como um enxame de mariposas alvoroçadas
pela claridade que invade (à revelia)
a escuridão do meu quarto
revelando ao meu lado
a cama vazia
que me encara com desdém
como quem tenta despertar alguma dor (despertador)
mas só consegue me deixar mais puta
viro pro lado e invento uma desculpa
para o dia não raiar
pelo menos até o meio-dia
ou até o telefone tocar
ou o carteiro chegar
ou a fome bater
ou qualquer coisa que me faça querer matar
ao invés de morrer

3.30.2015

Maresia

Eu gosto do gosto de sal que fica na boca depois de um banho de mar e do estremecimento que dá quando o vento bate no cabelo molhado. É como o eco de um beijo uma vez roubado. Como o sopro suave de uma respiração em meu ouvido, indo e vindo como as ondas que vêm e vão e (não em vão) trazem consigo o hálito fresco da maré.

Minha sina é sentir saudade do gosto do cheiro da cor do som do toque de tudo que uma dia eu já senti. Meu corpo guarda o calor do sol que queima marcas tatuadas em brasa. E mesmo quando eu troco a pele, o pelo guarda a lembrança do arrepio.

1.06.2015

Flor do deserto

a flor da pele também desabrocha
e brota
mesmo no campo mais seco
regado ao suor dos (es)poros
que estuporam sob o sol de rachar

pétala por pétala
revela sua beleza tímida
como um botão no peito comprimido
que sangra até murchar
em um orgasmo interrompido